terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Restauro revela detalhes de obra-prima de Vermeer

Enquanto aguardamos o balanço da Feira do Livro e da Venda de Natal realizados a semana passada, fica aqui um artigo interessante, retirado do Diário Digital de hoje, dia 11 de Dezembro, sobre uma obra do pintor Vermeer.
_______________________________

É como se ela estivesse nua. Depois de um restauro, a «Mulher de Azul a Ler uma Carta», obra-prima de Johannes Vermeer, perdeu a grossa camada de verniz amarelado que afogava as suas cores originais e está exposta no Masp numa mostra só dela.


Vermeer, morto aos 43 anos, em 1675, foi o mestre holandês da pintura de género, famoso por cenas do quotidiano transpostas para a tela com sofisticação de luz e cor até hoje única.
Numa espécie de digressão para anunciar a reabertura do Rijksmuseum de Amesterdão, fechado para reformas durante dez anos, a obra de Vermeer passou pelo Japão e pela China e chega agora a São Paulo - é a primeira vez que um dos 35 quadros de Vermeer é exposto na América do Sul.
«Essa é uma das obras-primas da era dourada da pintura holandesa, que foi o século XVII», diz Pieter Roeloffs, curador do Rijksmuseum. «É uma das peças mais marcantes da colecção.»
Pintada entre 1662 e 1665, «Mulher de Azul a Ler uma Carta» é importante por sintetizar numa só obra aquilo que consagrou Vermeer.
Enquanto Rembrandt, outro mestre holandês, é conhecido pelas suas telas com grossas camadas de tinta, aplicada em gestos bruscos, Vermeer criou composições planas e depuradas, com rígida organização geométrica, e figuras em cenários íntimos, iluminados sempre da esquerda para a direita, quase fotogramas cinematográficos.
Os seus personagens são apanhados no meio da acção sem perder o fulgor das cores. No caso da mulher de azul, menos famosa do que a sua «Rapariga com Brinco de Pérola», que chegou a Hollywood encarnada por Scarlett Johansson, é esse tom de azul que conta.
Vermeer usou lápis-lazúli, pigmento então importado do Afeganistão, para criar os tons rebaixados ou exaltados de azul que aparecem no quadro, dependendo da incidência da luz sobre os objectos.
Ele também pensou nessa luz para construir a profundidade do quadro. Em vez de usar luz e sombra para atingir esse efeito, ele criou variações do mesmo tom, neste caso azul e ocre, para destacar a figura do pano de fundo.
«Ele tenta entender o efeito da luz sobre cada elemento», diz Roeloffs. «É um efeito sublime que surge ao contrapor o rosto da mulher em ocre ao mapa do fundo da tela, também em ocre.»
Tanto a carta que a mulher de azul está a ler quanto o mapa ao fundo aludem à era das grandes navegações em que a tela foi pintada. É provável que a personagem esteja a ler uma carta do marido que estaria em alto mar.
Sobre a mesa, um colar de pérolas, que eram então importadas da Ásia, remete para as rotas do comércio marítimo.
Detalhes como o brilho da jóia e as tachas metálicas nas cadeiras da sala também só se tornaram visíveis depois do restauro feito pelo museu.
«Era difícil ver as cores de verdade. Também havia um buraco na tela, e a pintura foi reconstituída», diz Roeloffs. «Agora, o quadro está o mais próximo possível do que era quando Vermeer o pintou.»

Fechado durante quase dez anos, o Rijksmuseum, maior museu holandês, no centro de Amesterdão, será reaberto em Abril de 2013 que vem depois de reformas que obrigaram a instituição a funcionar em espaço reduzido.
Nesse período, havia longas filas de visitantes que se espremiam para ver «A Ronda da Noite», de Rembrandt, e outras obras-primas do seu cervo, como "Mulher de Azul a Ler uma Carta».
Esse novo Rijksmuseum passará a integrar uma cena que recupera o fôlego na Holanda, onde obras foram paralisadas pela crise económica que abala a Europa.
Neste ano, foi inaugurada, também com atrasos, a nova ala do Stedelijk, museu de arte contemporânea da capital holandesa, com um anexo que lembra uma enorme banheira, desenho do arquitecto Mels Crouwel.
Além da banheira, outro projecto ambicioso, o Eye, museu dedicado ao cinema, foi aberto neste ano na margem direita do rio Ij em Amesterdão, aposta de urbanistas locais para criar uma «rive droite» holandesa e revitalizar aquela região.



Sem comentários: