Discurso do presidente da associação de Pais - José Batalha - proferido no 39.º
encontro Nacional de Associações de Pais, na Casa das Histórias
Paula Rego, em Cascais, no dia 25 de outubro de 2014 no âmbito da campanha "Papel por alimentos".
"Portugal está a atravessar uma grave crise
financeira, económica e social, cujo final ainda não se vislumbra.
Esta crise não é apenas um chavão para abrir
telejornais, antes provoca vítimas muito concretas.
Entre desempregados e inativos temos cerca de um
milhão de pessoas, das quais mais de metade não recebem qualquer subsídio.
O Rendimento Social de Inserção baixou mais de
40% nos últimos três anos, passando de 520 para 315 milhões de euros, quando,
face às necessidades, deveria ter aumentado.
Uma em cada quatro crianças portuguesas até aos
18 anos, está em risco de pobreza.
Temos crianças a irem para as escolas com fome, o
que não pode ser aceite como normal, num país da União Europeia, em pleno
século XXI.
Temos de ser mais exigentes com quem nos governa,
quer a nível central, quer a nível local.
Mas temos também e principalmente, de ser
mais exigentes com todos e cada um de nós.
Enquanto comunidade, temos de ser capazes de
sermos solidários com os nossos membros mais fragilizados.
A comunidade escolar não pode assobiar para o
lado, quando temos crianças que chegam a desmaiar com fome, em plena sala de
aulas.
Isso já aconteceu na Ibn Mucana e não queremos
que se volte a repetir.
Para o evitar, lançámos uma campanha permanente
de recolha de papel/cartão, cuja venda permite pagar os pequenos-almoços, os
almoços e os lanches das crianças que a escola, através dos professores e
diretores de turma, vai referenciando e que já são mais de sete dezenas.
Em 2013 recolhemos 14.980 kg de papel e cartão.
Em 2014 já recolhemos 59.130 kg, que nos renderam
4.353,00 euros.
Recolhemos também 400 kg de tampinhas plásticas,
que nos trouxeram mais 259,00 euros.
As quantidades recolhidas estão a aumentar de
forma exponencial.
Cada vez temos mais crianças, mais pais, mais
professores, mais funcionários, a levarem papel para a escola e temos mais
empresas a oferecerem-nos o seu papel e cartão, desde que façamos a sua
recolha.
Para envolvermos todos os setores da nossa
comunidade escolar nesta ação, criámos uma Intituição Particular de Solidariedade
Social, onde estão, nos seus órgãos sociais, pais e professores de todas as
escolas do Agrupamento, funcionários, alunos e ex-alunos, numa comunhão de
vontades, em favor das crianças que mais precisam.
Mas este crescimento está a ficar limitado pela
nossa capacidade de recolha e transporte, que é feito nos carros particulares
de alguns de nós.
Para superarmos esta limitação, temos em curso
uma campanha de “crowdfunding” para adquirirmos uma carrinha em 2ª mão, que
permitirá triplicar a nossa capacidade de recolha e transporte e assim
reforçarmos a nossa capacidade de ajudar.
Até agora, esta campanha ainda não teve o apoio
de que precisamos, mas vamos fazendo o nosso caminho e acabaremos por chegar
lá.
Parafraseando um provérbio conhecido: Não queremos
que nos deem o peixe. Nem sequer precisamos que nos ensinem a pescar. Apenas
pedimos que nos ajudem a comprar a cana de pesca.
Muito obrigado"