Reflexões sobre o ranking das escolas
No dia 29 de
novembro foram publicados os rankings das escolas, que nos merecem as seguintes
reflexões:
Os rankings insistem em comparar escolas que não são comparáveis.
Não é possível comparar um colégio privado que seleciona os
seus alunos à entrada e durante todo o seu percurso académico, com uma escola
pública inclusiva, que admite todos os alunos, incluindo as crianças com
necessidades educativas especiais.
Não é possível comparar os resultados de crianças que
vêm de famílias com altas taxas de
escolarização, que valorizam a educação, com os de crianças de famílias de
baixa escolarização, que só mantêm os filhos na escola porque a isso são
obrigadas.
Não é possível comparar os resultados de crianças que têm
tudo (livros, computadores, internet, explicações) com os resultados de
crianças que têm fome e que nem os manuais escolares têm.
Não é possível comparar as escolas das grandes áreas urbanas,
onde existe uma grande oferta cultural, com as escolas das áreas rurais,
desertificadas e envelhecidas, onde nada acontece.
Também não se podem comparar escolas que tentam levar todos
os seus alunos a exame, com aquelas que promovem a anulação das matrículas dos
alunos mais fracos, que depois vão a exame como externos e não influenciam os
rankings.
Não será por acaso que as escolas pior posicionadas nos
rankings do secundário, são as que têm taxas de conclusão do secundário mais
elevadas.
Pelo atrás exposto, percebe-se que os rankings estão longe de serem uma Bíblia, que tenhamos de
seguir cegamente, como alguns defendem, mas também não são completamente
inúteis, como outros apregoam.
Os rankings permitem-nos percecionar a nossa posição no
conjunto dos agrupamentos das escolas públicas do nosso concelho, que têm uma
realidade social com algumas semelhanças entre si e, principalmente, servem
para vermos a evolução que temos tido, permitindo avaliar o nosso posicionamento,
relativamente ao nosso desempenho em anos anteriores.
E o que nos dizem os rankings ?
Em primeiro lugar, que há vários rankings.
Os do “Público” não são iguais aos do “Correio da Manhã”, os
do “Expresso” não são iguais aos do “Diário de Notícias” e as diferenças chegam
a ser significativas.
Basta uns rankings serem construídos com todas as escolas e
outros só entrarem em linha de conta com as que têm um determinado número de
exames, para explicar algumas diferenças.
Depois, os rankings deste ano dizem-nos que a educação, a
nível do ensino secundário, está muito melhor.
Nas escolas privadas a média de todos os exames subiu de
10,73 para 11,64 e nas escolas públicas subiu de 9,27 para 10,25.
O número de escolas com médias positivas subiu para mais do
dobro, passando de 216 para 458.
Acontece que não acredito em saltos qualitativos desta magnitude
num único ano.
Penso que tem havido uma gestão política dos exames.
No início, o MEC queria “provar” que o “facilitismo” não
preparava os alunos.
Aumentou um pouco a dificuldade dos exames e os resultados
foram maus.
Agora quer “provar” que a “exigência” e o “rigor” funcionam.
Altera-se um pouco a estrutura dos exames e os resultados
melhoram.
Mas uma coisa é certa, mais fáceis ou mais difíceis, os
exames são iguais para todos e não é esse o fator que explica a nossa descida
no ranking das escolas públicas do nosso concelho, no ensino secundário.
No 2º ciclo não estamos mal (2º lugar no Expresso, 3º lugar
no Diário de Notícias, Público e Correio da Manhã, em 12 escolas).
No 3º ciclo pioramos um pouco (3º lugar no Expresso, 4º lugar no Diário de
Notícias e Público, 6º lugar no Correio da Manhã, nas mesmas 12 escolas).
No ensino secundário já estivemos nos lugares cimeiros e este
ano ficámos abaixo do meio da tabela (4º lugar no Expresso, 5º lugar no Diário
de Notícias e Correio da Manhã, 6º lugar no Público, em 8 escolas).
Talvez esteja na altura de pensarmos conjuntamente (pais e
professores) no que poderemos fazer para melhorar estes resultados.
Já Albert Einstein dizia que “estupidez é fazermos sempre a mesma
coisa e esperarmos obter resultados diferentes”.
Olhando para o ranking, vemos que a escola pública que mais
subiu no nosso concelho foi Carcavelos.
Mas é preciso cuidado.
Carcavelos tem a mais baixa taxa de conclusão do ensino
secundário, o que pode querer dizer que os alunos mais fracos chumbaram,
anularam as matrículas ou foram para os cursos profissionais, o que obviamente
distorce os rankings.
Isto parece ser confirmado pelo facto de que o número de
exames no 9º ano ser muito semelhante ao da Ibn Mucana (365 contra 356) mas no
secundário estar muito abaixo (262 contra 392).
Temos de ver os resultados no tempo, ver a sua tendência e se
são consistentes (um ano só, bom ou mau, não significa nada) mas talvez fosse
de, sem preconceitos, fazermos um pouco de benchmarking (palavrão da Gestão,
que significa estudarmos os melhores) e ver o que é que eles
fazem de diferente.
Presidente da Associação
José Batalha
José Batalha